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  • Luisa Scherer

Adaptação Escolar: Como Preparar as Crianças e os Pais

Updated: Jun 14, 2023


Diversos acontecimentos pelos quais passamos durante a infância ficam registrados na nossa memória, e o primeiro dia na escola pode ser um deles, tanto para as crianças quanto para os pais. Essa fase de adaptação escolar envolve não só conhecimentos relacionados à educação e à construção de relações, mas também é repleta de aprendizado e desenvolvimento das crianças. 


Tudo é novo e, para muitas famílias, a ida das crianças para a escola significa a experiência de conviver em outro contexto que antes era formado apenas por pequenos núcleos familiares e de amigos.


Diante de todas essas transformações, não são só as crianças que passam por um processo de adaptação. Os pais também encaram emoções que não haviam experimentado antes.


Neste artigo nós vamos dar algumas dicas essenciais sobre como se preparar para a primeira ida na escola, continue a leitura!


Preparação dos Pais

A pedagoga Paula Strano, que é uma das fundadoras da Plataforma Ler o Mundo, falou sobre a importância de compreendermos também o lado dos adultos na adaptação escolar, mais precisamente da mãe, em artigo publicado na Isto É.

“O processo traz grandes expectativas, principalmente por parte das mães, que devem ser compreendidas e acolhidas para que transcorra da melhor maneira possível. Digo da melhor maneira possível pois cada processo de adaptação é singular, cada criança tem seu tempo e esse é o primeiro ponto importante dessa reflexão.” 

A terapeuta familiar e proprietária da Blueprint Mental Health, Michele Levin, em entrevista para a Healthline, também explicou sobre esse processo para os pais.

“É normal que os pais tenham dificuldade com eles mesmos em fazer a transição quando seus filhos começam o jardim de infância, para muitas famílias, esta é a primeira vez em que se perde algum controle.”

Portanto, as dificuldades podem ser relativas à preocupação com os filhos estarem diante dessa nossa realidade ou a insegurança sobre como será esse processo. A terapeuta explica que alguns pais podem precisar de mais apoio do que outros para se ajustarem à mudança. E nesse sentido, se você for um pai ou responsável que está vivenciando e se identifica com essa situação, o mais indicado é conversar sobre esse assunto antes de qualquer coisa.


Falar com outros pais que estão passando pelo mesmo e entender como funcionam as dinâmicas na escola são algumas medidas que podem trazer mais segurança e tranquilidade para os pais neste momento. 



A Adaptação Escolar Para Crianças Menores

Com crianças pequenas, vale levar a criança na escola antes de começar as aulas, e, que você possa participar mostrando o ambiente, brincando com ela, e conhecendo alguns funcionários, sem a pressão de ter outras crianças por perto e de começar a aula.


Quando de fato as aulas começarem, tenha em mente que seus filhos ainda não têm uma noção de tempo completamente formada. Uma frase como “a mamãe já volta, mais tarde a gente se vê” pode não significar nada para crianças pequenas, pelo simples fato de que elas não entendem o que quer dizer “depois”. Elas só conseguem entender que seus pais não estão com ela, e isso as assusta.


Segundo Luiza Elena L. Ribeiro do Valle, que é psicóloga e mestre em Psicologia Escolar e Educacional, “a educação infantil é uma fase de grande desenvolvimento das habilidades de aprendizagem, porque, nesse período, há uma grande aceleração no surgimento de conexões neurais, construindo a personalidade que, indelevelmente, guardará marcas… E podem ser boas, não é? As crianças pequenas assimilam mudanças com muita facilidade e repetem comportamentos como espelhos sociais. Espera-se que possam ver humanismo, colaboração e apoio mútuo, inclusive entre pais e escola”, explica


Devemos lembrar também que as crianças só começam a entender a sequência dos dias da semana de forma clara entre 4 e 5 anos. Por isso, se seus filhos forem mais novos, não adianta conversar com eles sobre a escola antes de acontecer, porque provavelmente eles não vão entender. Isso pode gerar uma ansiedade desnecessária, podendo piorar mais do que ajudar. 


A ida até a escola vai ser uma grande mudança na rotina das crianças menores. Novas relações vão ser criadas com os colegas, professores e outros funcionários da escola, relações essas que não existiam antes.


As crianças também passam a conviver em um ambiente novo com regras muito diferentes daquelas às quais estavam habituadas e essa transição pode ser diferente de criança para criança.


Cisele Ortiz, psicóloga e coordenadora do Instituto Avisa Lá, de São Paulo, em entrevista para o Portal Nova Escola, sugere que não existe um tempo determinado para essa transição. "Em geral, o período inicial da adaptação dura entre uma ou duas semanas, mas depende da criança, da família e de suas experiências anteriores relacionadas às separações que enfrentamos na vida". 


O Momento da Despedida na Adaptação Escolar

O momento da despedida na escola costuma ser difícil, tanto para as crianças quanto para os pais. Muitos adultos esperam a criança se distrair para então saírem da sala, mas isso pode causar muito desconforto para os pequenos. 


Cisele explica ainda que a despedida é fundamental para a adaptação:

"Por mais difícil e doloroso que seja para ambos, construir uma relação com os filhos pautada na confiança e na honestidade é sempre melhor. A clareza da despedida é saudável e necessária"

A adaptação escolar de crianças pequenas varia de acordo com a cada uma, mas os pais precisam saber que, no início, talvez seja necessário que fiquem com seus filhos em sala de aula. Pode ser que seja o dia todo ou metade do turno: quem vai determinar a necessidade é a criança. Você vai diminuindo a sua presença à medida em que ela for se sentindo mais confiante. 


"Na pré-escola, as crianças são ávidas por fazer amigos, já falam bem e têm mais autonomia", explica Cisele. Sua adaptação costuma ser mais tranquila e pode ser realizada em pequenos grupos de duas ou três crianças para facilitar sua integração. Mesmo assim, a presença dos familiares não deve ser dispensada. Nos primeiros dias, eles podem ajudar os pequenos a se ambientar ao local e ao tempo de execução das atividades.


Hora de Dizer Tchau

O ideal é ter um equilíbrio entre se despedir como sendo um grande acontecimento e sair de fininho no período de adaptação. Marcia Tosin é psicóloga especialista em psicoterapia comportamental e fundadora do Movimento Neurocompatível, um movimento de ativismo pelo desenvolvimento infantil que reúne pais, mães e profissionais interessados nas condições ideais pelas quais os cérebros humanos se desenvolvem e funcionam. É fundamentada pelas ciências: Psicologia Evolutiva, Antropologia e Neurobiologia. Em seu Instagram, que reúne mais de 800 mil seguidores, Márcia fala que não é necessário enganar a criança, mas também não precisa fazer um ritual de desligamento. 

“... A reação de desamparo que a criança sente é pela resposta de um cérebro muito antigo que desestabiliza sem a figura de referência, e não porque ele não foi “avisado” que você sairia.”

Marcia propõe um exercício para entender melhor como funciona o nosso cérebro: imagina que você, adulto, vai fazer uma cirurgia invasiva. Mesmo que você saiba que apenas 0,9% das pessoas morrem numa cirurgia como essa, seu cérebro diz que você fará parte dessa estatística. Isso acontece porque o nosso cérebro está sempre com a bússola voltada para o risco. O médico pode te encher de informações úteis e te falar muitas coisas para tentar te acalmar, mas o sistema límbico funciona sozinho e te joga para o pior resultado.


Outro exemplo é quando estamos sozinhos em casa e ouvimos um barulho. Pode não haver risco nenhum, mas o cérebro avisa que pode ser um predador.

“Ele te prepara para o pior: tira sangue das extremidades caso o predador arranque sua mão e não você não sangre até morrer; eriça seu pelo para que você pareça maior; aumenta o fluxo sanguíneo nas regiões que você precisa usar para lutar ou fugir; secreta suor para você ficar mais escorregadio e para estabilizar a temperatura; você ficará mais ofegante para aumentar a disposição de oxigênio. Temos um organismo que age antes que você pense.” Quando a criança fica na escola pelas primeiras vezes, sozinha, esse sistema dispara, e então ela chora. E esse sistema funciona independente do que os pais falam. Adaptação escolar é para acalmar esse estado de resposta. Não existe um modelo único de adaptação escolar, mas é necessário saber que esse sistema existe. Não é “manha” nem falta de frustração.” 

Em relação ao nervosismo ou ansiedade dos pais atrapalharem a adaptação da criança, Marcia explica que isso não atrapalha, mas protege. “Temos que acreditar que os pais sofrem em deixar seus filhos longe e não há nada de errado com isso.”

Atenção aos Sinais na Adaptação Escolar

Caso a criança apresente choro constante ao chegar o horário de ir para a escola, ou outros sinais de angústia extrema, os pais devem ficar atentos. Marcia Tosin usou a sua conta do Instagram para falar sobre essa questão.

“Não se deve atribuir causalidade de “problema” a esses comportamentos. Isso aumenta a culpa dos pais. Elas são apenas pessoas pequenas que precisam de mais tempo para construir apego e se sentirem seguras nessa transição”

A pedagoga Ana Paula Yazbek, colunista do Portal Papo de Mãe, do UOL, também escreveu sobre o assunto.

“Cada criança e família vivencia este período de modo próprio. Há crianças que se mostram muito animadas nos primeiros dias e que ao perceberem que estar na escola significará ficar longe de sua casa, começam a apresentar recusas e estranhamentos. Outras, parecem alheias ao que ocorre ao seu redor, como se estivessem apenas esperando pela hora de ir embora. Têm, também, as crianças que demonstram estar ávidas pelas novidades e dão pouca atenção aos seus familiares nos momentos de despedida e separação. A dubiedade é inerente ao processo de adaptação. Num mesmo dia, ocorrem avanços e retrocessos na segurança apresentada tanto pelas crianças, como por suas mães ou pais; cabendo às instituições o suporte para que progressivamente os vínculos de confiança se estabeleçam” 

Para crianças maiores, a adaptação também pode necessitar de alguns cuidados, visto que elas sentem saudades e inseguranças longe dos pais, assim como as crianças menores.


Lembrar as crianças de que você pode voltar para a escola e buscá-las, ou fazer ligações para ouvirem a sua voz são medidas que acalmam e acalentam nessa fase de adaptação.


Levar um objeto com o cheirinho dos pais para que as crianças sintam o cheiro quando tiverem saudades também pode ajudar.


Ao questionar as crianças sobre o tempo que passaram na escola, preste atenção na resposta, pois elas podem indicar também algum tipo de problema que a criança esteja enfrentando na sua adaptação.


A adaptação escolar é uma fase repleta de desafios, já que é extremamente importante para o aprendizado e desenvolvimento das crianças. Tanto pais quanto a escola são fundamentais nesse processo e nesse sentido, devem estar alinhados e em constante diálogo. 



A Importância da Comunicação

As crianças podem ficar extremamente animadas e ao mesmo tempo ansiosas com o início das aulas. Para auxiliar os pequenos a lidar com essas emoções, a nossa dica principal é muito diálogo (para crianças maiores de 4 anos) sobre a nova rotina.


Essas conversas podem surgir em momentos espontâneos como horário de brincadeira entre os pais e filhos, por exemplo.


Uma outra dica é os pais visitarem a escola antes do primeiro dia de aula, para conhecer melhor o ambiente e quais atividades e horários serão propostas no primeiro dia. É importante também conhecer a equipe da escola, não só os professores, já que diversos profissionais poderão oferecer apoio às crianças nessa adaptação. 


E sobre essa comunicação com os filhos, o portal do Ministério da Educação divulgou algumas dicas para os pais lidarem com essa experiência dos primeiros dias na escola: 


O que os familiares podem verificar com a criança sobre o atendimento na educação infantil:

• Pergunte qual é o nome das professoras e de outros funcionários;

• Pergunte o nome dos amiguinhos mais próximos;

• Pergunte à criança o que ela mais gostou de fazer naquele dia;

• Incentive a criança a contar e a narrar situações vividas na instituição;

• Que músicas cantou ou ouviu;

• Quais brincadeiras aconteceram;

• Que pinturas, desenhos, esculturas ela fez;

• Qual livro a professora leu;

• Que história a professora contou;

• O que ela está aprendendo, entre outras.


O que os familiares podem observar diretamente na criança sobre o atendimento na educação infantil:


• Observe o comportamento da criança quando ela chega na instituição (alegria, timidez ou choro).

• Observe diária e atentamente enquanto estiver conversando com a criança, seu olhar, seus gestos, sua fala e suas reações podem ajudar a avaliar o estado físico e emocional.

• Observe as reações da criança ao ver seus colegas, isso pode demonstrar como está a relação com a turma.

• Observe as produções e o material que ela traz da instituição.


Dê Conforto Para as Crianças durante a Adaptação Escolar


Falar sobre a escola e o quanto essa experiência que faz parte da infância é importante pode ajudar as crianças a se sentirem mais confortáveis no seu primeiro dia de aula. Busque contar como foi a sua primeira ida à escola, fale de outras crianças próximas que já viveram esse momento.


Se possível, leve seu filho para conhecer o colégio antes do primeiro dia de aula, pois dessa forma a criança já vai conhecendo um pouco do novo ambiente. Explique que sentir insegurança e receio antes de ir para a escola é um sentimento comum.


Inserir a criança no processo que envolve a ida para escola, como acompanhar a compra dos materiais escolares, também pode ser útil para que os pequenos tenham um momento prazeroso que se relaciona com a escola. 


Chegar mais cedo no primeiro dia de aula e acompanhar a criança até a sala transmite segurança. Reforce também que dentro de algumas horas vocês estarão juntos novamente. 

Muitas coisas podem acontecer pelo caminho durante a adaptação ou até mesmo depois dela. E tudo bem, é normal! Uma coisa muito comum é a criança começar a chorar e gritar na porta da escola, não querendo ir para aula, quando ela já estava adaptada. Se isso ocorrer, converse com as professoras e, se necessário, reinicie o processo de adaptação escolar. Isso dá mais confiança para seus filhos.


Texto: Débora Nazário

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